quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Ministra da Cultura Garante Pontos

Da Rede Brasil Atual

São Paulo – Em reunião com membros da Comissão Paulista dos Pontos de Cultura, nesta terça-feira (22), em Brasília, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, prometeu manter portas abertas para o movimento. A reunião não constava da agenda oficial divulgada pela pasta mas durou uma hora, durante a qual os ativistas pediram celeridade para normalização de repasses de verbas de convênios, bolsas e prêmios do programa Cultura Viva. Eles também pedem que esse processo ocorra de modo transparente.

Dispostos a uma "ocupação pacífica" da sede do ministério, 50 integrantes da Frente Paulista dos Pontos de Cultura chegaram à capital federal na manhã desta terça. A reivindicação é de uma postura clara sobre a continuidade do programa e a respeito de como será feito o pagamento dos recursos atrasados. Até então, apenas uma reunião – convocada com menos 24 horas de antecedência – havia sido realizada entre representantes de Pontos de Cultura e Ana de Hollanda.

"As portas estão abertas, seja o que for preciso, nós estaremos aqui sim", disse Ana de Hollanda, segundo o coletivo Nós Digitais. O grupo acompanhou a reunião no Twitter. Ela pediu um pacto do diálogo, crédito e confiança, alegando que, a exemplo das demandas dos pontos de cultura, "toda a agenda está atrasada". O encontro foi transmitido ao vivo pela Twitcam.

Para Marcos Pardim, membro da comissão Paulista dos Pontos de Cultura, a reunião foi uma vitória porque representa uma ação de pessoas envolvidas no programa Cultura Viva sem a participação do MinC. Um ônibus partiu de Itu (SP) até Brasília. Ele acredita que o fato de Ana de Hollanda ter recebido os ativistas é uma demonstração de força do movimento.

"Para nós, esse começo de administração da nova equipe do MinC está muito ruidosa", admite Pardim. "O que queremos saber é o que é ruído, versão e o que é verdade", insiste. "O fato de a ministra ter nos recebido foi muito bom. Mas, quando recebermos o que o MinC nos deve, será ótimo", ironiza Pardim.

Cultura Viva

Embora Ana de Hollanda tenha se comprometido a manter as políticas do programa Cultura Viva, cujo principal expoente são os Pontos de Cultura, várias das iniciativas selecionadas manifestam preocupação sobre o futuro. Daniel Marostegan, do Pontão Teia Casa de Criação, de São Carlos (SP), avalia que há "insegurança" por conta da falta de diálogo.

Segundo Pardim, os atrasos nos repasses de verbas ocorrem desde o fim do ano passado, em relação a grupos por todo o país. Segundo pesquisa realizada pela Frente Paulista no Portal da Lei de Diretrizes Orçamentárias, dos R$ 205,3 milhões autorizados para serem gastos pelo programa Cultura Viva (Programa 1.141 do MinC), apenas R$ 14,4 milhões e R$ 70,99 milhões foram empenhados.

Desde o início da gestão de Ana de Hollanda, medidas administrativas e declarações têm sido motivo de apreensão por ativistas ligados a movimentos de cultura e cultura digital. Em janeiro, houve grande polêmica envolvendo direitos autorais e a adoção de licenças livres, em função da retirada da licença Creative Commons do site do ministério.


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Centenário do Teatro Municipal de SP Pode Passar em Branco

Notícia no mínimo chocante para os defensores da cultura brasileira, e humilhante para todos nós paulistanos.

Do Luis Nassif
 
Por socram pb

As Secretarias de Cultura de São Paulo - ambas, municipal e estadual - são piada de mau gosto.
Aqui um exemplo ridículo de como a prefeitura e a dita secretaria - que não funciona na realidade, é apenas um cabide de emprego - tratam o Teatro Municipal no ano de seu centenário.

Tivessemos um governo municipal decente a programação do centenário estaria sendo preparada desde 2009 com certeza.

Mas aqui … bem, o desrespeito do sr. Kassab e do secretario Calil pela cidade e seus bens culturais são inadjetiváveis.

do blog do João Luiz Sampaio
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O Municipal em seu centenário: sem previsão de reabertura, sem programação, sem diretor artístico, salários atrasados…

por joaosampaio

12.fevereiro.2011 16:41:56

A saída de Alex Klein da direção artística do Teatro Municipal acontece quatro meses após sua chegada ao teatro. Segundo entrevista concedida a Jotabê Medeiros, do “Caderno 2”, a decisão foi motivada porque Klein “não conseguiria olhar no rosto de um paulistano e garantir que faria neste ano uma programação à altura do centenário do teatro”. Entre os motivos para tanto, estaria a presença de “forças” querendo opinar e deixando sua marca, “criando conflitos”. Klein se mostrou interessado em continuar apenas como regente titular da Sinfônica Municipal, mas fontes ligadas ao teatro garantem que a opção foi descartada pela secretaria municipal de Cultura. Quem assume o Municipal, agora? Os suspeitos principais talvez sejam os outros maestros na lista tríplice da qual fazia parte Alex Klein: Luiz Fernando Malheiro e Carlos Moreno.

Havia, desde o começo de 2010, uma comissão montando uma programação para o centenário. Klein chegou no meio do caminho e quis dar a sua cara à programação. Óperas foram canceladas, artistas desconvidados, num vai e vem que pouco deve ter colaborado para a credibilidade da casa. Além disso, a reforma sem fim do teatro, atrasando a sua reabertura, só tornou ainda mais incerto o tão esperado renascimento da programação. Por tudo isso, se chama a atenção pela rapidez, a saída de Klein não chega exatamente a ser surpreendente.

O primeiro anúncio da contratação de Klein o colocava como regente-titular da Sinfônica Municipal. No entanto, poucos dias depois, quando o entrevistei para o Caderno 2, ele falava que assumia a função de diretor artístico. Fontes ligadas à direção geral do Municipal me procuraram, então, para dizer que ele era apenas regente titular. No final do ano passado, quando perguntei ao secretário Carlos Augusto Calil sobre a questão, ele foi categórico em dizer que não havia vácuo de poder no Municipal e que Klein era sim o diretor artístico. Disse mais: todos os candidatos ao posto, entrevistados por ele, deixaram claro que só assumiriam a OSM caso fossem também responsáveis pela direção artística global do teatro, o que englobaria outros corpos estáveis e as escolas de música e bailado. A saída de Klein, agora, mostra que o vácuo existia.

Esse contexto, porém, não é novo. E mais do que demonizar Klein como um traidor que abandona a causa em um momento delicado ou beatificá-lo como um heroi que tentou, sem sucesso, mudar o sistema, acho importante reconhecer que ele é apenas mais um personagem de uma história na qual os protagonistas são o caos administrativo e o descaso com que o Municipal vem sendo tratado ao longo dos anos. A angústia com a programação no ano do centenário é compreensível, mas há algo muito mais amplo em jogo. Teremos Rigoletto, Valquíria? Ao que tudo indica, sim. Mas essa discussão não pode mascarar o problema maior, que é a falta de um projeto artístico consistente para o Municipal. A atual gestão começou os trabalhos de maneira promissora, com a central de produção e a tentativa de formatação de um esquema próprio de produção; sete anos depois, no entanto, o teatro começa o ano fechado, sem garantias de reabertura (a data informada, em junho, é tão garantida quanto as tantas outras já divulgadas nos últimos meses), sem programação, sem diretor artístico, com salários atrasados (os vencimentos de dezembro e janeiro ainda não foram pagos).

Recorrer ao projeto que transforma o Municipal em uma fundação como solução para todos os problemas é igualmente ilusório. Ele pode ser importante mas, antes de definir como o teatro vai funcionar, é preciso saber para que ele deve funcionar. E o que se percebe hoje é justamente a ausência de um plano artístico consistente para o Municipal. O esvaziamento, nos últimos dois anos, da temporada do teatro, está enfim cobrando o seu preço. E a atual gestão chega ao ano do centenário levando o teatro em direção à irrelevância. Não será a presença ou não de um concerto de gala ou uma ou outra ópera que vai resolver essa questão.


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Polêmica na Cultura - Agora é a Vez de Gilberto Gil

Continua a polêmica em relação ao posicionamento da nova ministra da Cultura sobre a questão da internet e dos direitos autorais. Aparentemente existe uma grande contradição entre a atual e a antiga política no governo federal. Como ainda não tenho opinião formada a respeito, desenvolvo aqui os debates. Desta vez é uma entrevista do ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, sobre as mudanças, publicada no Estadão. Vamos a ela:

Do Estadão


Jotabê Medeiros - O Estado de S.Paulo

Para o ex-ministro Gilberto Gil, que se autodefiniu certa vez como "o ministro hacker", a questão da nova ordem é crucial. Não foi à toa que ele, em 1963, já tinha composto a canção Cérebro Eletrônico, na qual antevia a importância dos computadores. Num dos seus discos mais recentes, Gil também já cantava: "Banda larga mais democratizada ou então não adianta nada. Os problemas não terão solução". No início dos anos 2000, fez Pela Internet, na qual falava da nova realidade de entrar na rede, "juntar via internet um grupo de tietes de Connecticut".

Beti Niemeyer/Divulgação
Beti Niemeyer/Divulgação
Gil. “Coisas absurdas são ditas sobre as licenças”

Em 2004, decorrência de tudo isso, ele - como ministro da Cultura - foi o primeiro artista brasileiro a ceder uma obra para as licenças Creative Commons (CC). Há 14 dias, a sua sucessora no cargo, Ana de Hollanda, retirou do site do MinC as licenças CC, o que tem provocado acalorado debate na rede. Ao Estado, pela primeira vez, Gil falou sobre o caso.

Você tem acompanhado essa polêmica da retirada das licenças Creative Commons do site do MinC?
Tenho acompanhado, é claro, com interesse. São consequências naturais de mudanças de grupos, de conceitos. Espero que essa polêmica seja pautada pelo diálogo. Agora mesmo eu estava lendo o artigo do Hermano Vianna (sociólogo adepto da tese do copyleft) em O Globo, ele fala do açodamento, da pressa em se retirar esse logo do site do MinC.

O ato foi logo nos primeiros dias de governo, o que parece marcar uma ação simbólica...
Se é isso, que fique nisso e se esgote nisso. Se é para marcar uma mudança de guarda, que não fique só nisso. Porque essas iniciativas, como o Creative Commons, não continham essa ideia do particularismo. É algo que deveria se propagar por aí. Você veja que os conteúdos do governo inglês estão sob uma licença que foi criada para isso. O governo da Austrália usa as licenças Creative Commons. O que o Hermano (Vianna) fala é para que o Estado abra os olhos para a necessidade de se compreender. Não precisa necessariamente usá-la (a licença Creative Commons), mas fazer dela um marco para a criação de outras. É preciso levar em conta o caráter institucional, formalizador, a dimensão jurídica para a autonomia do autor, para dimensionar essa licença, entender seus limites. Seu caráter limitado ou ilimitado. Não pode examinar com uma visão apressada, que talvez seja o que esteja na base dessa iniciativa, (a crença) de que essa licença e todas essas licenças similares enfraquecem o direito autoral.

A primeira vez que você falou em Creative Commons foi em 2003.
E as pessoas não estão ainda devidamente informadas. O lado que defende tem sido mais cuidadoso em esclarecer a licença, a variedade dessas licenças, do que o lado que ataca, que recusa. Esse lado não tem vindo para uma dimensão esclarecedora. Ouço vários deles dizendo que o CC é um instrumento das multinacionais americanas, coisas absurdas desse tipo. A surpresa que você teve em 2003 deveria hoje se converter em um instrumento para a compreensão ampla dessa possibilidade.

O debate parece conter também uma ideia conspiracionista, de que, por ser americana, a licença é nociva. Lembra o debate sobre as guitarras elétricas.
Porque a ideia veio de um acadêmico ativista americano? Não tem sentido. O lado contrário às licenças livres, nos Estados Unidos, os interesses ligados à questão coletiva de direitos autorais se opõem ao Creative Commons da mesma forma que os daqui.