sexta-feira, 22 de abril de 2011

Os Músicos e o ECAD

Do Luis Nassif

Por torres


Olá, Jair, nós não sabemos o que o Foo faz mas eu posso dizer que sou músico profissional desde os 17 anos. Tendo quarenta, não dá pra dizer que estou começando. Gostaria de colocar a minha experiência
 Já toquei e gravei com inúmeros grandes nomes da MPB (Ivan Lins, Milton Nascimento, etc). Tenho vários cds em grupo e um totalmente autoral. Conheço o meio musical, sei do ofício e entendo que hoje há dois grupos:
 1.aqueles que se beneficiam da arrecadação de direitos autorais: grandes nomes da MPB, compositores de sucessos, herdeiros de autores.
 2. aqueles que contribuem para sustentar os recordes de arrecadação a cada ano: músicos que tocam em festas, bares, bailes
  Isso é uma descrição incompleta e é óbvio, como músico, posso fazer parte dos dois grupos de acordo com as circunstâncias.

  A realidade é que a imensa (imensa mesmo) maioria de cantores, instrumentistas e compositores nunca vai ganhar um centavo do ECAD. São os caras que estão tocando por aí, quase anonimamente. Saiba você que essas pessoas, muitas vezes, enfrentam uma situação realmente difícil na profissão (sem direitos trabalhistas, cachês muito baixos). E fazem parte do grupo que financia o Ecad. (Se você toca num bar, vc tem que pagar o Ecad e, é claro que ninguém nunca vai saber o que você toca, ou seja pra quem vai esse dinheiro?). Então não existe uma simpatia pelo ECAD entre o meio musical, excetuando aqueles citados acima, no item 1, e que são uma minoria.
 Eu me considero num nível intermediário entre esses dois grupos: já acompanhei muitos artistas (inclusive a própria ministra muitas vezes) e agora inicio uma incipiente carreira solo. Quando me filiei a uma associação de autores (Abramus), recebi uns R$400,00 por toda a minha vida musical. Era um dinheiro proveniente de algumas apresentações musicais feitas na Tv Globo e em alguns bares em S Paulo. Isso aconteceu há uns 6 anos e agora, ano após ano, ligo lá e eles me informam que não há nada pra receber. Quando realizo meus shows em Sescs, bares ou teatros, tenho que encaminhar um pedido para o Ecad, informando que só tocarei minhas próprias músicas, para que me liberem do dízimo que eles cobram sobre o valor do cachê. Quando incluo uma música de um outro autor num cd que gravo, fico à mercê de uma negociação dificílima com as editoras. Eles chegam a pedir mais de R$1000,00 por uma música, e não querem saber se é um cd independente que terá uma vendagem muito baixa.  Então, minha experiência com direitos autorais no Brasil, infelizmente me leva a pensar que editoras e autores, na ânsia de compensar a queda nas vendas de cds e as perdas com a pirataria, atravancam a vida do músico comum, atravessando suas apresentações. Mais do que isso, impedem o acesso aos tesouros da música popular brasileira como a obra de Pixinguinha, Noel Rosa e muitos outros, cobrando valores extorsivos para que os músicos gravem tais músicas. Só pra ilustrar: pegue um grupo de choro com pessoas mais velhas e suponha que eles resolvam gravar seu trabalho num cd, registrando os clássicos do Choro (Jacob do Bandolim, Pixinguinha). Se o herdeiro e a editora não deixarem, ou pedirem valores muito altos, eles não podem. São impedidos de gravar aquilo que tocam uma vida inteira. Você concorda com essa situação?
 

Um comentário:

♦ Agnicolau ♦ disse...

Assim "é a vida - dita cultural?".