segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Habemus Pontos

HABEMUS PONTO(S)

Um dia, faz bem pouco tempo, em uma reunião da ASLe (Academia Saltense de Letras), a diretora de cultura, Vânia Barcella, fazia-se presente.

Entremeado a um comentário que fazia aos outros membros, sobre Conselhos Municipais de Cultura, perguntei a ela se havia (ou não) na secretaria da Cultura a ideia de criação de um deles. Ela me respondeu que não sabia existir, mas acreditava que não.

Carolina Padreca, a mais jovem das ocupantes de uma cadeira da Academia, olhou-nos e disse: “Até que enfim, alguém pra tocar nesse assunto. Demorou...”

Alguns dias depois, tomei a iniciativa de telefonar para Carolina. Propus à ela a ideia de um encontro de artistas, arteiros, fazedores, sabedores e consumidores de Cultura, para tratarmos de alguns assuntos, dentre eles um possível movimento para criação do Conselho Municipal de Cultura. Carolina topou.

Agendamos uma data e local, e dividimos (desigualmente, é bom dizer, pois ela ficou com uma lista maior do que a minha) a tarefa de convidar algumas poucas pessoas, em princípio.

Daí, para a criação do Fórum Permanente de Cultura foi um pulo. Tudo muito espantosa e gratificantemente rápido. Ao grupo, originariamente restrito, foram chegando novos atores, novos personagens, novas vozes, novas ideias, novos sonhos, novas esperanças - e, para não haver dúvidas, velhos problemas.

Tem nada, não. Protagonismo e autonomia só se dão mesmo com empoderamento. E a vida segue seu rumo, alheia a nós. Se bobearmos, outros se empoderam. E nem sempre com os princípios e valores humanos do protagonismo e da autonomia. Viver é perigoso, já disse um dia Guimarães Rosa.

A partir do Fórum, foi possível, sem perder o foco das dificuldades, tratar de alguns assuntos imprescindíveis para uma boa gestão de política pública cultural: o edital aberto para novos Pontos de Cultura; a realização da I Conferência Municipal de Cultura, o movimento pela criação do Conselho Municipal de Cultura (cujo lançamento oficial se deu na Conferência, e lugar melhor e mais emblemático não poderia haver), etc.

E os frutos desta árvore ainda tão pequena de nossa luta eterna já começaram a aparecer. Nosso Fórum tem motivo hoje para celebrar, comemorar, brindar: habemus Pontos. Hoje, dia 16 de novembro de 2009, Salto foi contemplada com a habilitação de três Pontos de Cultura. Os projetos:

Associação Cultural Corporação Musical Saltense
Ponto de Cultura - Espaço Cultural Barros Junior

Associação de Formação Infanto Juvenil Múltipla - @FIM
Anselminhos - Pagadores de Promessas

Corpo de Baile Cidade de Salto
Caminhos da Dança

entre os 1188 de todo o Estado, estão na lista dos 300 escolhidos pela comissão julgadora e se juntam aos já 175 outros existentes, para fazer parte da Rede Estadual dos Pontos de Cultura.

Para que o motivo de nos alegrarmos seja ainda mais contundente e regionalizado, a FASAM – Ponto de Cultura Para Todos os Especias, de Itu, ganhou também o edital de Pontões de Cultura, e a vizinha cidade passou a contar com mais um Ponto de Cultura: a UNEI (União Negra Ituana), cujo trabalho é mesmo elogiável e seus representantes, pessoas valiosas, além do que Indaiatuba também teve o projeto Bolha de Sabão contemplado e prevê para 2010 a implementação de sua Rede de Pontos de Cultura, formada por mais cinco Pontos.

Uma conquista e tanto, decerto. E que deve mesmo ser celebrada, sem no entanto perdermos de vista que, em verdade, ela é a senha que dá acesso para que Salto e região entremos definitivamente no conceito do programa Cultura Viva. Um programa exemplar de política pública cultural. Ele existe somente há cinco anos, mas já apresenta resultados extraordinários.

O livro do secretário de Cidadania Cultural, Célio Turino, chamado Pontos de Cultura – O Brasil de Baixo pra Cima, lançado oficialmente no último dia 11/12, faz-se leitura obrigatória para quem se pretende protagonista cultural. A Cultura, já cantou Jorge Mautner, é a melhor e mais generosa maneira de se praticar a desobediência civil.

Habemus Pontos, saltenses. Como analogia ao título, imaginei as chaminés de algumas indústrias saltenses dos anos 50/60/70 soltando fumaças, em uma espécie de anunciação vaticana.

Não há mais este tempo. Sequer há a maioria destas fábricas, consequentemente as suas chaminés. Não tem importância. A gente inventa. Nós somos mesmo um povo culturalmente bem capaz de inventar. O que quisermos – até um país diferente, quiçá melhor. Para isso, antes, é preciso um bairro diferente, uma cidade diferente, um Estado diferente. Antes, ainda, um Eu diferente. Quiçá, melhores.

@FIM, Corporação Musical Saltense (Espaço Cultural Barros Junior) e Corpo de Baile, entidades proponentes dos projetos premiados, devem se congraçar ao outro projeto saltense que também concorreu: Festival de Música Amiga FM.

Não é, certamente, um edital que transforma qualquer entidade ou programa em um Ponto de Cultura. Somos nós mesmos. Nossas escolhas e nossas ações. Vocês da Amiga FM, batam no peito e digam: somos, sim, Ponto de Cultura.

Repito: habemus Pontos. Agora, que venham Conselho Municipal de Cultura, Fundo Municipal de Cultura, democratização de acesso e de fomento ao Fundo e, quem sabe um dia Salto, quem sabe um dia, a nossa Rede Municipal de Pontos de Cultura e a Escola de Cultura, Artes e Cidadania Anselmo Duarte.

A fumaça imaginária de nossa chaminé inexistente anuncia a boa nova: habemus Pontos.

Marcos Pardim.

Arlindo G. Nicolau - Artista Plástico, Designer Gráfico, Webdesigner e Educador. Estudou Artes Plásticas e Pedagogia na Unicamp. Colabora com o Espaço Cultural Barros Junior e com o Fórum Permanente de Cultura de Salto/SP.

2 comentários:

Silmar Oliveira disse...

Mas veja só que conta mais bonita:
Dos 300 pontos contemplados em todo o estado de São Paulo, 3 são saltenses, ou seja, 1% (um porcento)!
Que privilégio para nossa população, que representa aproximadamente 0,005% do total de habitantes do estado.
Parabéns não só à população saltense mas a toda a região, que irá colaborar e usufruir desses novos "pontos de cultura".

Carolina Padreca disse...

Pois é, pessoal!
E para aqueles que não entendem a importância da cultura, este é um sinal! Uma luz!
E também, para aqueles que não enxergam a proximidade entre arte e terceiro setor é uma lição!
É a resposta "engasgada/omitida" desta que um dia foi citada, talvez, como "incompetente" para trabalhar no tal terceiro setor!
Mais uma vitória não só para os fazedores dos projetos, como também para a comunidade, seja direta ou indiretamente!
Sucesso a todos!